Rute Silva (Cuidadora)
A minha experiência do COVID 19

Quando os casos de COVID 19 se agravaram e o contágio era uma constante, esta instituição implementou o plano de contingência a tempo e horas, impediu as visitas e obrigou ao cumprimento de normas mais rígidas de higiene e segurança.
Começamos a usar viseiras, mascaras, fatos de proteção além do que já era obrigatório. Houve ainda mudanças substanciais na organização do espaço e do trabalho. As equipas de trabalho foram dividas em 3, de forma a não haver cruzamentos. Trabalhávamos 3 dias (7h/21h) e folgávamos 6 dias rotativamente pelas equipas A, B, C para descanso e para haver sempre cuidadoras suplentes para colmatar os problemas. Basta 1 infetado entrar no lar, seja utente ou profissional para facilmente disseminar o contágio na instituição. Assim, após a progressão dentro da instituição os utentes passaram a estar em isolamento nos seus quartos, não podiam sair nem para os corredores.
Toda esta situação teve um grande impacto junto dos nossos utentes, pois ficaram apreensivos de estarem isolados e não receberem visitas, e nem participar nas atividades que estavam habituados. Alguns assustavam-se com o vestuário que usávamos, não nos reconheciam, eram testados regularmente e sempre que necessitavam de consultas hospitalares ficavam em quarentena, e questionavam porque não tinham visitas e por estarem separados. Entretanto, as visitas começaram a ser realizadas através de um vidro o que era estranho para eles, pois estavam habituados a contato físico e não tecnológico, através de WhatsApp.
Entretanto deu-se um surto no Lar Alfredo Carriço, e fui para lá apoiar as equipas de trabalho pois ficaram com menos pessoal. Ao fim de 8 dias testei positivo e fiquei em quarentena durante 20 dias. Esses dias foram muito complicados porque estive em isolamento, sem contato com a minha família, marido e filhos e pais. Foram dias de apreensão, pois o meu marido tinha feito uma cirurgia e estava muito debilitado, e os meus pais eram pessoas de risco devido á idade e patologias.
Os meus sintomas foram dores de cabeça, tosse e diarreia, além da falta de paladar e olfato. Felizmente não tomei qualquer medicação, e ao fim de 20 dias testei negativo e regressei ao trabalho.
Fui cuidar dos utentes da ala COVID que estavam infetados e em quarentena. Um desses utentes acabou por falecer, deixando-nos muito tristes, pois temos uma relação de proximidade e empatia muito forte com todos eles. São como familiares e tratados como tal.
Em janeiro, com a vacinação de todas as cuidadoras e utentes, começou a voltar tudo à normalidade, um pouco restrita, mas mesmo assim bem-vinda. Deixamos de usar os fatos e viseiras, usando só as máscaras e o resto do equipamento de proteção individual.
Os utentes já podem já podem receber a visitas dos familiares, ainda através do vidro e falando por videochamadas. Também já não precisam de fazer quarentena após consultas e regressaram às atividades. A vinda da cabeleireira à instituição era muito esperada principalmente pelas senhoras, pois gostam de andar bem-apresentadas, e teve um grande impacto na sua autoestima.
Graças a Deus está tudo a voltar à normalidade, para o bem de todos. Esta situação foi uma novidade pois nunca tínhamos vivido tamanha experiência.
O balanço, apesar de tudo, foi positivo pois os laços que nos unem tornaram-se mais fortes, mesmo havendo distanciamento, dor e saudades por aqueles que já não se encontram entre nós.

A todos Bem-haja!
Susana Maria Vieira Silva (Cuidadora)
A minha visão desta pandemia

25 de Janeiro de 2020
Ficamos todos preocupados e perplexos, até que a 2 de Março de 2020 é comunicado oficialmente os 2 primeiros casos positivo e de COVID19 em Portugal.
A partir daqui e se pudesse resumir toda esta minha vivência numa palavra, diria GRATIFICANTE.
Gratificante, porque tentámos e conseguimos na maioria dos casos, proteger os nossos utentes.
Gratificante, porque embora em muitos casos os nossos utentes não compreendessem bem toda a gravidade da situação, com um simples olhar ou um sorriso, como que “pediam” FIQUE AO PÉ DE MIM, fazendo compensar todo o trabalho árduo que tivemos para os proteger deste “maldito vírus”.
Foram horas, dias e meses de luta desigual contra este inimigo invisível e sem compaixão por quem é mais débil.
Sofremos todos juntos, rimos e choramos, mas passado este ano, olhámos para trás e podemos dizer com orgulho, que tudo fizemos para proteger os nossos utentes, sentindo a alegria do dever cumprido.
Por último, mas talvez o mais importante, fica o meu agradecimento do coração, a todos os responsáveis desta Grande Instituição, que disponibilizaram desde o primeiro momento todos os meios para que nada faltasse.
Não posso esquecer também a minha EXCELENTE equipa A e restantes colegas, assim como os nossos familiares que nos apoiaram nos momentos menos bons, a todos um bem haja e a minha sincera gratidão.

OBRIGADA
Maria de Fátima Carneiro (Familiar)
O Impacto da Pandemia nos Idosos Residentes em Lares e nas suas Famílias

“…Que envelhecer permaneça belo… Há tantas coisas boas para fazer. O ouro, as rendas, o marfim e as sedas não precisam de ser novos. E as velhas árvores também curam, as velhas ruas também têm encanto. Então, por que não poderei eu, como elas, permanecer belo ao envelhecer?”

“…saber envelhecer é a maior das sabedorias e um dos mais difíceis capítulos da grande arte de viver.”
(Maria de Jesus Garcia Arroyo)

Longe de imaginar, a repercussão que a Covid-19 iria ter nos idosos, o seu impacto foi muito para além das mortes causadas por este vírus, que tomou de assalto esta população já de si fragilizada pela idade. Os declínios cognitivos provocados pelo isolamento e sobretudo pelas sucessivas quarentenas a que estiveram sujeitos, foi fatal. Sendo a solidão, um fenómeno muito complexo e com diversas abordagens, “…eis porque numerosos lares não são mais que autênticos desertos de solidão” (Elias, 2001).
O medo, o sofrimento provocado pelo isolamento, o desconhecido e a falta de afetos, mudou completamente a vida destes idosos. O dilema dos lares é um processo cumulativo de negligência, desde há muitos anos. A pandemia deixou claro que os planos de contingência não existiam, ou não eram adequados. Consequentemente, aquilo que podia ter sido evitado ou minimizado, não foi. O que ninguém imaginaria era que tantos lares (muitos ilegais), em busca de lucro fácil, tratassem os seus idosos de forma miserável e desumana. Assim, a pandemia veio expor muitas das debilidades existentes nos lares até então desconhecidas ou ignoradas. Algumas situações trágicas, levantaram o véu sobre a falha de fiscalização pelo Estado, nomeadamente das condições em que se encontravam os idosos que aí residiam.
Outra debilidade que todos sabíamos existir, é a carência de profissionais qualificados nas mais diversas áreas. Por força das exigências do momento, houve necessidade de reforçaros profissionais nos lares. Tornou-se então evidente, que o rácio de trabalhadores por utente não se coadunava com os requisitos legais.

O meu testemunho, resulta da vivência e da forma como consegui gerir todo este processo com a minha mãe, uma das utentes da Instituição. Por força das circunstâncias, a Instituição que até então era considerada uma segunda família, passou para mim a ser um lugar frio, distante e inacessível. As visitas semanais, os abraços, os fins-de-semana e as conversas com a minha mãe, apenas faziam parte de um imaginário no mais profundo do meu ser. Restava-me confiar em todos os profissionais que mais do que nunca, eram agora, a única família de cada um dos utentes.
O telefone tornou-se o único meio de contacto entre nós. Porém, tornava-se muito difícil a comunicação, pois o diálogo não fluía. Um dia, o telefone tocou e uma voz embargada, deu-me a notícia que tinham utentes com Covid-19. O que podia fazer? Nada! Apenas esperar e ter fé. Como iria a minha mãe lidar com a situação? Depois de muito pensar e correndo todos os riscos daí inerentes, mas consciente da minha decisão, trouxe-a para a minha casa. Se o pensei, assim o fiz! Refletindo hoje, foi o melhor que podia ter feito. Estou em crer que também foi uma forma de ajudar a Instituição, na medida em que era menos uma utente para cuidar. Quero destacar toda a colaboração que me foi dada, da parte das Diretoras para agilizar o processo.
Num momento de crise é sempre complicado priorizar o que a Direção de um lar de idosos deve fazer. Os idosos, sendo adultos, devem ser ouvidos para compreenderem melhor a situação seja ela qual for, de forma a desmistificar o que possam ter ouvido, nomeadamente através dos meios de comunicação social.
Torna-se urgente repensar a função dos lares, desde logo a sua estrutura organizacional. Relembrando as características de uma Instituição total segundo Erving Goffman (1961), “…as instituições são um local fechado ao exterior, que congrega no seu interior a realização de atividades com os mesmos participantes e sob a mesma autoridade. Temos dois grupos: um subordinado (residentes) e um dirigente, que controla, supervisiona e regula as atividades…”. Goffman classifica os lares para idosos na categoria de instituições criadas para cuidar de pessoas que se consideram inofensivas e incapazes.
Um novo conceito está a surgir, estando a sua implementação a tornar-se um verdadeiro sucesso. O “cohousing” é um modelo habitacional, que tendo surgido em países do norte da Europa, está a tornar-se muito popular nomeadamente em Espanha e Portugal. Sãocondomínios que funcionam como uma república autogerida ou simplificando “envelhecer entre amigos”.
O Vaticano num documento de Academia Pontifícia para a Vida, defende “uma revolução” na forma de tratar os idosos, devolvendo os mais velhos a um ambiente doméstico e familiar, após a pandemia. “Precisamos de uma nova visão, um novo paradigma que permita à sociedade cuidar dos idosos”.
Acredito que todos temos de retirar lições das consequências desastrosas desta pandemia, a qual deixou bem visível as fragilidades destas instituições.
Zélia Pinho (Funcionária)
Testemunho de uma funcionária do SAD

Quando no principio do ano 2020 se começou a falar de uma possível pandemia, lembrei-me logo da gripe espanhola de 1918. As dúvidas iam pairando no ar… qual será a gravidade? Mas quando lhe chamaram COVID -19 já se tinha tornado uma pandemia descontrolada, muito pela ganancia do ser humano.

No dia 7 de março de 2020, na comunicação social, falavam em fechar as visitas aos lares, vi logo que era muito mais grave do que se estava a prever. E no dia seguinte a nossa diretora do lar veio ter connosco ás 7:30 da manhã para nos alertar para a gravidade da pandemia e para as mudanças que iriam ocorrer, uma delas a proibição de visitas aos lares.
O medo foi pairando, cada vez mais, sobre nós.

Eu vivia com o medo de tudo e de todos, era uma novidade, tinha medo de ser contaminada e de contaminar os nossos idosos. Os dias foram passando, sempre com o mesmo receio. Eu estava disposta a ficar dentro do lar, se fosse preciso, só para não ficar com o vírus. Estava sempre a fazer testes e cada testagem era um medo gigante.

Embora seja funcionária do SAD, num período de grande tensão, fui convidada para ir, durante uns tempos, trabalhar no lar. Fui sem receio porque dentro do lar sentia-me mais segura do que cá fora. Cá fora havia as famílias as visitas aos nossos utentes e isso assustava-me.
Algum tempo depois voltei para o SAD e os familiares pareciam que não acreditavam no que estava a acontecer brincavam com tudo, e eu sentia que pensavam só neles.

Os idosos não conseguiam compreender porque é que não dávamos um beijo ou um abraço e perguntavam: já não gostas de mim? Como explicar se também era uma novidade para nós.

Com o passar do tempo, infelizmente, aconteceu o que eu acreditava ser impossível, casos positivos dentro do lar, apesar de todo o controlo e higiene que havia. Ninguém tinha culpa, mas aconteceu! Fui outra vez para dentro ajudar. Então o medo era, agora, muito maior…os idosos estavam assustados, cansados da solidão da ausência da família. Não conseguiam compreender o porquê de tudo e não havia explicação que fosse aceite por eles. Só pensavam que estavam abandonados e tinham-nos apenas a nós.
O tempo passava, mas o medo continuava, quando sabia que tinha estado em contacto com um idoso positivo então o medo aumentava ainda mais.
Todos os dias de manhã quando acordava, a primeira coisa que fazia era sentir os cheiros, verificar se tinha qualquer sintoma para ficar, um pouco, descansada e poder ir trabalhar.

Quando a situação estava controlada no lar voltei para o SAD, ai começavam a haver idosos positivos e famílias positivas e o medo continuava a pairava sobre nós. Como iriamos conseguir ultrapassar sem ficar contaminadas. Felizmente, sempre consegui contornar o vírus, embora sem saber como. Foram dias muito, mas muito difíceis!

Hoje em dia já se torna mais fácil, sabemos um pouco mais do vírus e a vacina veio ajudar muito. Esta pandemia foi e será uma lição para todos nós, seres humanos, veio para mostrar que não somos nada, quando achávamos que éramos tudo.
Como éramos felizes e não sabíamos. Agora vivo um dia de cada vez tentando aproveitar ao máximo o que a vida me dá, sempre com respeito por mim e pelo próximo.
Susana Patrícia (Cuidadora)
De um dia para o outro, a pandemia de covid-19 apoderou-se de todo o mundo.
Eis que num domingo se fecham as portas para todas as famílias e demais amigos dos nossos utentes.

Os dias confinados passaram a ser um pesadelo…para ELES e para NÓS.

A casa cheia de vida, alegre... deixou de ser a mesma. Deixamos de ver os filhos a passearem com os pais no nosso lindo jardim..
A tristeza era visível em cada rosto…em cada olhar. Foram dias difíceis. Passamos a viver num clima de medo porque qualquer um de nós podia ser infetado e transmitir o vírus.
Desconhecíamos o que o futuro nos reservava. As noticias não eram favoráveis e os utentes estavam sempre atentos a elas por mais que os tentássemos tranquilizar e desviar a atenção para outros assuntos. Havia a saudade e a preocupação pelo bem estar da família.

Mudamos formas de estar e fazer. A certa altura não me sentia cuidadora…precisava de mais e eles também. Apenas havia uma certeza: mais do que ser cuidadora, tínhamos que nos reinventar, dar carinho sem abraçar, e "ocupar" o lugar da família, da filha, da neta que ficou comprometido resultado do distanciamento imposto pelas regras da DGS.
Tivemos que arranjar estratégias para, no meio do medo e da tristeza, vê-los sorrir. Recorremos à música, às canções de outros tempos para alegrar os dias e às novas tecnologias para minimizar o afastamento da família. Ouvimos e aprendemos muitas histórias. Alguns utentes interpretavam esta animação como uma festa chegando a dizer aos familiares "liga mais tarde, porque agora é a hora de a festa começar".
Sentia que naquele momento com tão pouco fazíamo-los felizes. Tudo isto custou muito, mas sei que se sentiam protegidos. Fomos sempre transmitindo a máxima que tudo ficaria bem, mesmo na altura em que fomos surpreendidos pela entrada do vírus na casa.
Os sorrisos apesar de mais fechados não deixaram de existir e passamos a sentir um forte aperto na mão.
Foram e ainda são tempos difíceis, em que a união de todas nós em prol deles se fortaleceu... Sinto que foi uma lição de vida, que sairemos mais unidos desta pandemia e estamos todos muito ansiosos pela reabertura das portas e pelo reencontro com os familiares.

Esse será um dia muito feliz e especial para todos nós...
Susana Araújo (Cuidadora)
Serve o presente texto como maneira de transmitir de forma o mais clara possível, o quão importante mas constantemente desvalorizado, é o trabalho de uma cuidadora, principalmente em tempos difíceis e imprevisíveis.
A pandemia vulgarmente designada por Covid 19, teve o seu início alastrando-se lenta e gradualmente, a partir de 2 de Março de 2020. Decorridos vários meses, infelizmente a mesma acabou por afetar, a Instituição na qual eu Susana Araújo orgulhosamente trabalho, com grande dedicação e afinco. Com o evoluir da situação, foi de imediato elaborado e posto em prática, um plano pela Santa Casa da Misericórdia composto por várias medidas, que visassem de forma rápida e eficaz, tentar e se possível conter, com sucesso este inimigo invisível e assaz desigual, em relação aos meios de que nessa altura dispúnhamos. Tal plano exigiu a nível pessoal, ou seja de mim, uma rápida e atempada adaptação a tudo o que de mim dependia, nomeadamente abdicando do contacto físico com as pessoas pelas quais nutro a mais profunda admiração: os meus queridos idosos, e consequentemente a vida no que à esfera privada concerne, teve que ser igualmente e radicalmente reformulada. Desta forma o peso da responsabilidade se já em tempos normais era grande, com a abrupta entrada deste vírus nas nossas vidas, e neste preciso caso na Instituição em questão duplicou em todos os aspetos, tornando-se e sem receio confesso, sufocante.
Tudo num piscar de olhos se transformou: desde horários alterados e significativamente alargados, equipamentos de proteção asfixiantes para os quais nem todos encontraram grandes facilidades, no que à adaptação diz respeito, e obviamente tudo o que acima referi aliado ao enorme respeito, que saberia haveria de ter, por algo totalmente desconhecido mas que com grandes probabilidades, poderia passar de uma mera possibilidade, a uma pura e dura realidade. Tal como era de prever foram surgindo os primeiros casos, mas com isso também nasceu em mim, uma vontade inesgotável de jamais cruzar os braços, redobrar os cuidados, e sobretudo, e o que considero o mais importante segundo o meu ponto de vista, nunca de forma alguma e sobre nenhum pretexto, perder a enorme fé que felizmente possuo, e da qual muito me orgulho. Com o aumento dos casos, nada mais poderia fazer do que agarrar-me à enorme paixão pelo meu trabalho que tanto prezo, para fazer face a uma realidade à qual estava exposta: contágio pela Covid 19.

Infelizmente e ainda assim, com todas as medidas atrás mencionadas, não foi de todo possível evitar alguns contágios entre cuidadoras e utentes. Tais acontecimentos apesar de lamentáveis, não foram suficientes para abalar o enorme orgulho que sinto, por todo o serviço e sacrifício inerente ao mesmo, por vezes desumano tendo em conta o grau de esforço exigido.
Atualmente, decorrido que foi pouco mais de um ano, desta cruel e devastadora pandemia, poderei afirmar que a situação se encontra se não estável, pelo menos com tendências significativas de melhoria. Desde já e para finalizar, expresso a minha gratidão pelo facto de trabalhar numa instituição, que nunca poupou em esforços, os mesmos essencialmente de cariz financeiro, visando a minha proteção a todos os níveis, com o intuito de futuramente, tal serviço ser mais correta e assertivamente prestado.
Rosário Oliveira (Familiar)
O ano de 2020 foi para todos nós um ano muito difícil... No entanto acho que nós, familiares, e vós os grandes cuidadores aprendemos e crescemos!
Enquanto os nossos estiveram em confinamento total, sem visitas, vocês foram a Família, os Amigos, os Cuidadores. A nós, cabia - e cabe - agradecer o vosso esforço. Mais tarde um pouco encontraram uma solução para vermos e falarmos com os nossos familiares, através do WhatsApp. Foi uma surpresa muito reconfortante; senti-me feliz.
Passámos por alguns grandes sustos. Sempre que o telefone tocava e aparecia “Lar Mãe”, o meu coração apertava; do outro lado também sentia preocupação. Senti sempre que, com más ou boas notícias, as emoções, de pesar ou alegria, foram sempre partilhadas do lado de lá e do lado de cá!

Percebi que nessa “Casa” existiu sempre organização e planeamento para solucionar os surtos que aí existiram. Senti que aí era o lugar seguro da minha mãe!

Nada foi fácil, mas continuamos a olhar para frente com Esperança, todos nós juntos! Neste momento, lembro-me das palavras do escritor*: “Mãe, tenho pena. Esperei sempre que entendesses as palavras que nunca disse e os gestos que nunca fiz. Sei hoje que apenas esperei, mãe, e esperar não é suficiente.”
Esta guerra difícil está perto do fim e sei que, graças a esta equipa, terei tempo de dizer à minha mãe as palavras que poupei neste último ano.

O Meu Muito Obrigada por cuidarem da minha querida Mãe!
Paulo Babo (Familiar)
Em tempos de pandemia, sem o amor dos nossos pode-se desistir de viver

À espera de poder estar no abraço da minha mãe.
Em tempos de pandemia, urge pensar nos afetos de quem, por mais que viva, menos já tem para viver!
Em tempos de pandemia, ninguém ganhou nada. Em tempos de pandemia, todos perderam qualidade de vida, todos receberam menos amor, pelos abraços que deixaram de dar, pelo calor humano que deixaram de sentir, pelos mimos e afagos que deixaram de ter. A primazia à saúde foi a prioridade e essa prioridade não se pode questionar. A saúde em primeiro. Só posso agradecer. Mas, a saúde é o quê? Sem o amor dos nossos não se vive, sem o amor dos nossos pode-se desistir de viver.
Muito grato eu estou pelo cuidado e pelo zelo com a minha mãe, e com todas as mães e pais que aí vivem.
Durante o tempo vivido pela pandemia foi preciso mudar rotinas, hábitos e formas de estar.
Senti o zelo e a forma de cuidar, extraordinários, com que todos/as os/as profissionais da Santa Casa da Misericórdia da Trofa cuidaram da minha mãe.
Muitos/as tiveram, em alguns momentos, que estar afastados/as das suas famílias, dedicando-se por inteiro à minha mãe, e aos/às demais utentes. Não fosse estes afetos e tudo seria ainda mais difícil para a minha mãe.
A todos e a todas, o meu muito obrigado e o meu reconhecimento.

Agora acreditamos que é possível baixar um pouco as barreiras, recuperar o perdido possível, poder abraçar, sentir o cheiro, ter e dar colo. As nossas mães e os nossos pais, de quem vocês tão bem cuidam, precisam estar, cheirar e sentir os seus filhos.
Agora acreditamos que é possível baixar um pouco as barreiras, recuperar o perdido possível, poder abraçar, sentir o cheiro, ter e dar colo. As nossas mães e os nossos pais, de quem vocês tão bem cuidam, precisam estar, cheirar e sentir os seus filhos.
Quando poderei levar a minha mãe a passear, como ela tanto gosta? Quando poderei ter a minha mãe na minha casa num almoço de domingo?

O futuro está aí….
À espera de poder estar no abraço da minha mãe.
Marisa (Beneficiária)
Durante a pandemia, qualquer contacto se tornou inevitavelmente, mais difícil, o mesmo se passou com relação ao acompanhamento por parte da segurança social.
Na verdade, para mim, o único facto que mudou é que, deixou de ser feito de forma presencial, passando a ser via telefone ou e-mail.
Nunca me senti desapoiada, quando tive dúvidas, estas foram sempre dissolvidas, as respostas chegaram sempre, inclusive foi durante esta fase, que a Dra. conseguiu apoio alimentar na Cruz Vermelha.
Sinto que, no máximo, a Dra. está à distância de um telefonema, que mesmo que não esteja disponível, depois responde.
O que dizer?! Eu não tenho razão de queixa.
A “minha” Dra., é quase como uma amiga, sem abuso. Mas de facto, se fizer uma análise, ainda que, o termo amigo, possa parecer abusivo, ajuda-me, esclarece-me e, às vezes, chega mesmo a dar-me alternativas no procedimento para isto ou aquilo, no que concerne à educação dos filhos, que todos os pais do mundo, sabem que há idades em que não é fácil.
Da minha parte, agradeço muito à “minha” Dra. e aos serviços da Segurança Social da Trofa.
Teresa (Beneficiária)
O que posso dizer das técnicas de intervenção social da misericórdia da Trofa?
Posso dizer que são muito agradáveis, são super acessíveis, têm calor humano, preocupam-se sempre em ajudar.
A explicar como deveremos fazer em determinada situação.
Não tenho nada a apontar, se não fossem elas eu não saberia como fazer muitas coisas. Este tempo de pandemia, veio mudar muita coisa no nosso dia a dia e tivemos que evoluir, principalmente, a nível digital e estes profissionais, estão sempre prontos a ajudar em qualquer situação.
Desde já agradeço todo o apoio que tenho recebido.
Paulo (Beneficiário)
O Covid-19 é a doença mais terrível que apareceu no mundo.
Chegou de repente, ceifou a vida das pessoas e modificou a vida de todos nós.
A nossa linda vida de viver, de cumprimentar as pessoas, dar beijinhos, abraços, apertar as mãos, de estar com confiança com os nossos amigos.
Enfim, estamos à espera que acabe rápido e voltem as nossas vidas normais.
Fernando (Beneficiário)
Então vou dizer como eu passava o meu tempo durante a pandemia: horas a dormir, a ver televisão, no meu quintal a tirar umas ervas, ia até à minha irmã para lhe ajudar no terreno e passar tempo, como o meu cunhado está acamado.
Agora sempre é melhor. Vou até ao café e falo com os amigos. Outros dias vou a casa dos meus irmãos e é assim que se vai passando o tempo.
Maria Oliveira (Beneficiária)
O apoio em tempos de Covid foi excecional.
As técnicas estiveram sempre acessíveis e acompanharam-me na mesma via telefone, não me deixando desamparada.
Nos atendimentos via telefone foram incansáveis, deram-me sempre uma palavra amiga e incentivaram-me a ter paciência para suportar esta fase tão negativa.
Agradeço o apoio recebido e agradeço pelo excelente trabalho.
Reyna (Beneficiária)
O meu agradecimento a todos os técnicos da Santa Casa da Misericórdia pela valiosa ajuda durante a pandemia.
Eu precisei de ajuda em particular a nível de saúde, após ter sido operada e a equipa de RSI da Santa Casa da Misericórdia interveio em todo o processo de apoio na minha recuperação.
Com muito carinho envio-lhes estas palavras de agradecimento, recebam os meus mais respeitosos cumprimentos.
Agradeço imenso pessoal da Misericórdia da Trofa e peço a nosso Deus Jeová que os abençoe sempre.
Alexandre Carvalho (Equipa RSI)
A pandemia de COVID-19 trouxe mudanças muito grandes na forma como trabalhamos. O nosso trabalho alicerça-se nas relações humanas e na proximidade, e a pandemia veio limitar-nos na possibilidade de estar com as pessoas, impedindo-nos de fazer o nosso trabalho como o fazíamos até então.
Para além de estarmos limitados na possibilidade de contato com as pessoas, sabíamos que estavam a ultrapassar uma fase difícil, marcada pelas dúvidas, incertezas e receios. Nós próprios víamos os camiões cheios de lixívia a limpar as ruas, ouvíamos os carros da proteção civil a apelar a que ficássemos em casa, víamos homens vestidos como em filmes de ficção nas notícias, ouvíamos relatos do que se estava a passar em Espanha e Itália e isso despertava-nos sentimentos muito variados: receio, ansiedade, etc.
Apesar disso, tínhamos um trabalho a fazer e tínhamos de arranjar estratégias para nos relacionarmos com as pessoas que acompanhávamos e embora os atendimentos fossem reduzidos ao essencial, eram realizados mais contatos telefónicos e procurava-se estar no exterior com as pessoas, por exemplo em visitas domiciliárias.
Depois, para além dos problemas já conhecidos e agravados pela pandemia, como a solidão, surgiam novos problemas como as dificuldades no acesso a serviços, as dificuldades em usar as plataformas informáticas, os pedidos de declarações, o abandono escolar em alguns casos, e outros.

Lentamente, a normalidade foi-se e vai-se repondo.

A pandemia veio para ficar, pelo menos por algum tempo, e temos que nos adaptar a esta nova realidade, e apoiar as famílias que acompanhamos.
Carla Oliveira (Equipa RSI)
O contexto da atual pandemia COVID-19 tem conduzido a profundas alterações na vida dos cidadãos, nas organizações e na sociedade em geral. O distanciamento social, o isolamento e, até mesmo o teletrabalho pode ser uma consequência de várias alterações devido à pandemia, dificultando muitas vezes o nosso trabalho, o nosso bem-estar e a nossa vida pessoal.
Deparamos com um sentimento de tristeza, irritabilidade, vazio e até mesmo podemos chegar ao limite da exaustão. Estes fatores podem condicionar a nossa capacidade de resolver os problemas que vão surgindo no dia-a-dia e também, não conseguirmos atingir metas e objetivos a que nos propusemos ao longo do nosso percurso neste projeto.
Uma das preocupações que debatemos ao longo deste tempo pandémico foi a questão da relação técnico/beneficiário, o que levou à limitação da nossa intervenção (por exemplo no que respeita a relações de confiança) e consequentemente, pode ter existido um aumento de situações de violência doméstica e menores em risco.
O atendimento não presencial e a necessidade de estabelecimento de relação; a incerteza sobre algumas situações de maior preocupação; a dificuldade do acesso de todos à internet e redes sociais/plataformas de conversas on-line.
O aumento de pedidos de apoios sociais e a sobrecarga na adaptação dos serviços revelou-se numa dificuldade que ameaçou a qualidade da intervenção (verba para os apoios incerta).
Madalena Lopes (Equipa RSI)
Vivências em tempo de Pandemia!
Esta pandemia chegou de improviso e apanhou-nos impreparados, deixando uma grande sensação de desorientação e impotência.
Neste relato, contarei um pouco da minha vivência como agente de intervenção social em tempo de pandemia, a adaptação ao novo padrão de intervenção, enfim, as mudanças que a pandemia me proporcionou.
Foi muito difícil no começo, pois senti-me mais pobre e mais vulnerável, vivenciando a sensação da limitação e da restrição de liberdade. A nível técnico, não poder realizar atendimentos presenciais, visitas no domicílio para evitar o contágio da doença – confesso que foi o mais complicado – pois sou muito do toque, olhar olhos nos olhos… A nível pessoal, o isolamento social, usar máscara, não poder conviver com a família, com os amigos.
Apesar de toda a intempérie, esta pandemia gerou muito aprendizado. Trabalhar a partir de casa foi um desafio e ao mesmo tempo uma enorme oportunidade, pois foi possível explorar as tecnologias e as formas de comunicar com as famílias e com a comunidade. Disciplinar-me para garantir tempo e espaço para a realização da minha atividade laboral.
Outro desafio, sabendo dos riscos que tudo poderia acarretar, foi dar o meu contributo à Misericórdia na distribuição de refeições a famílias acompanhadas no âmbito do serviço de apoio domiciliário. Foi uma experiência incrível, à qual só posso manifestar Gratidão!
Orgulho-me pela maneira corajosa com a qual lidei com os acontecimentos destes últimos meses. As batalhas silenciosas que eu enfrentei. As lágrimas que eu segurei e as que deixei rolar livremente. Eu fiz o que deu, eu fiz o melhor que podia.

Celebro a minha força. Reconheço a minha resiliência.

Nada foi em vão, nada nunca será em vão, acredito, confio e descanso na certeza de que melhores dias, estão a caminho.
Ana Oliveira (Equipa RSI)
Integrei na Equipa do RSI em plena pandemia. Confesso que no início foi tudo uma nova adaptação, mas o ser humano é incrível. Passagem de processos, apresentação a famílias, conhecer o historial de cada agregado e criar empatia.
Mas vamos nos colocar no lugar do outro. Começo a inteirar-me das situações familiares acompanhadas por outras colegas e começo a verificar que, tanto espaçamento e sem acompanhamento face a esta pandemia não podia ser. Está certo, que recebemos restrições de visitas face ao COVID, mas estas famílias precisam de se sentir acompanhadas e saberem que estamos à distância de um telefonema. Situações urgentes sempre com autorização e coloquei pés ao caminho, situações menos urgentes conseguíamos oferecer o nosso carinho e conforto por uma chamada. Às vezes o simples gesto de uma chamada, era o transbordar de felicidade do outro lado do telefone.
Todos os dias estamos expostos a problemas, e não é por isso que deixamos de viver. Dar o passo noutra direção, identificar alternativas ou romper padrões de vida, não é fácil. Exige coragem, esperança, confiança, foco e fé. Mas ficar sempre no mesmo lugar, reclamar da vida que temos e não fazer nada, não é viver. Temos que estar dispostos às mudanças, e são essas mudanças que nos fazem crescer e que tiramos uma aprendizagem todos os dias!
Mariana Gonçalves (Equipa RSI)
A pandemia veio trazer uma dificuldade acrescida na intervenção junto das nossas famílias, pois levou à redução significativa dos contatos presenciais, tanto ao nível dos atendimentos como das visitas domiciliárias, tão fundamentais para um conhecimento e um aprofundamento da realidade dos nossos beneficiários.
Durante este contexto tivemos que nos adaptar a uma nova forma de intervir, na minha opinião mais distante e menos natural, recorrendo mais aos contatos telefónicos e aos meios informáticos, para manter o acompanhamento e o apoio às famílias. Porém, não deixámos de estar presentes e de apoiar sempre, dentro das nossas limitações e com as exigências que nos eram pedidas, as pessoas que recorriam a nós.
Saliento, outro aspeto que me marcou e com o qual foi difícil lidar, em termos pessoais. O facto de realizar teletrabalho e conciliar este com o acompanhamento escolar à minha filha pela exigência e necessidade de “socorrer” e gerir as emoções de dois mundos, em muitas ocasiões, ao mesmo tempo. Mas tudo se fez, de uma forma ou de outra, em grande parte pelo apoio que tive de todos os colegas da equipa e a colaboração e compreensão das famílias.
Foi e é um tempo difícil, exigente, que nos fez sair da nossa zona de conforto, da nossa segurança e continuar o caminho, sem baixar os braços, para cumprir o nosso objetivo principal, que é apoiar aqueles que mais precisam de nós.
Diana Silva (Equipa RSI)
Exercer o trabalho social em tempo de pandemia é um desafio enorme com o qual nunca pensei ser confrontada um dia. Não é fácil ter de ler o outro através do olhar, pois o uso da máscara constitui uma barreira à interpretação das emoções. O distanciamento físico é ainda uma dificuldade maior. Não são raras as vezes em que temos de “despir” o papel de Técnico e “vestir” o papel de Amigo para dar um abraço que conforte alguém que dele precisa. Não o poder fazer nos dias de hoje deixa-me sempre com um sentimento de impotência. Por outro lado, tenho vindo a sentir cada vez mais a valorização do nosso trabalho, quer por parte dos beneficiários, quer por parte dos parceiros sociais. A pandemia veio mostrar que a união faz a força e que quando se unem sinergias, ninguém é deixado para trás.
Tenhamos esperança num futuro melhor!